Dia 21 de setembro é comemorado o DIA MUNDIAL DA DOENÇA DE ALZHEIMER

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O envelhecimento da população mundial é um fato muito esperado e desejado, refletindo um aumento na expectativa de vida dos indivíduos bem como uma melhora nos serviços de saúde.

O Brasil se encontra entre os dez países com a população com maior quantidade de idosos (OMS-ONU). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados do censo 2000, o Brasil apresenta 9,7 % de sua população com 60 anos ou mais. A expectativa de vida do brasileiro ao nascer, em 2000, era de 66 anos para homens e de 74 anos para mulheres; além disso, o IBGE estima que daqui a 13 anos esta expectativa seja de 72 e 79 anos, respectivamente.

Com o envelhecimento da população há maiores possibilidades de estes indivíduos desenvolverem doenças crônicas que afetam caracteristicamente esta faixa etária acima dos 60 anos, tais com as doenças cardiovasculares, endócrinas, neoplásicas e doenças degenerativas cerebrais. As síndromes demenciais representam uma grande preocupação entre as doenças degenerativas cerebrais, porque comprometem esta faixa etária da população, limitam o funcionamento normal das pessoas, afetam os familiares, ocorrem por períodos longos da vida do indivíduo, e acabam prejudicando a qualidade de vida da pessoa doente e das pessoas que os cercam.

A doença de Alzheimer é a principal causa das síndromes demenciais, respondendo por cerca e 50-60% dos casos, com acometimento de pessoas na faixa etária dos 60 anos e progredindo de forma exponencial diretamente relacionado com o aumento da idade; levando pessoas á um grau de dependência de forma progressiva, chegando à níveis de dependência total, incluindo alimentação, deambulação, cuidados básicos, com todas as implicações sociais e familiares, econômicas e financeiras, além das implicações médicas e psicológicas.

Esta doença é a mais frequente das síndromes demenciais, responsável por cerca de 50% a 70% das causas de demência de forma isolada ou em associação e de etiologia degenerativa, possui características clinicas e patológicas próprias. Provavelmente não apresenta causa única e sim uma heterogeneidade de fatores, apresentando variações na apresentação clínica, como taxa de progressão, déficits neuropsicológicos e apresentações de sintomas comportamentais. A avaliação clínica permite um diagnóstico correto em cerca de 80-90% dos pacientes.

As características clínicas e cognitivas principais são:

  • Queixa de alteração cognitiva relatada pelo paciente, informante próximo ou profissional;
  • Evidência de comprometimento em um ou mais domínios cognitivos tipicamente incluindo a memória, obtida através de avaliação que compreenda os seguintes domínios cognitivos: memória, função executiva, linguagem e habilidades visuais-espaciais; ou exame neuropsicológico;
  • Preservação da independência nas atividades funcionais. Pode haver problemas leves para executar tarefas complexas anteriormente habituais, tais como pagar contas, preparar uma refeição ou fazer compras. O paciente pode demorar mais, ser menos eficiente e cometer mais erros ao executar essas atividades. No entanto, ainda é capaz de manter sua independência com mínima assistência;
  • Não preenche critérios para demência.

É importante descartar outras doenças sistêmicas ou neurológicas que poderiam ser responsáveis pelo declínio cognitivo; evidência de declínio longitudinal da cognição compatível com evolução natural da DA, quando possível e história consistente com DA familial.

O comprometimento cognitivo ocorre principalmente em memória, linguagem, gnosias, praxias e funções executivas, que podem ser evidenciados através de testes objetivos neuropsicológicos, que além de servirem para diagnóstico, são úteis na evolução da DA, uma vez que o curso da doença é, em média, cerca de dez anos de evolução. A memória está comprometida precocemente, na forma de déficit de aprendizado de informações, no nível episódico, ou seja, o aprendizado de eventos e de pessoas está prejudicado.

Outra marca da DA é a dificuldade em resolver problemas do dia-a-dia e de planejar atividades corretamente (secundárias ao déficit de aprendizado de informações). Um déficit em evocar fatos e eventos, principalmente os adquiridos mais recentemente, também está presente, sendo proporcional ao prejuízo de aprendizado episódico, e pode ser percebido na dificuldade dos pacientes em reconhecer locais e a relação das pessoas e objetos com esses locais. Isso explica a confusão, precocemente notada nos indivíduos, quando têm de enfrentar mudanças rápidas de cena e locais.

A linguagem na DA também está precocemente acometida, podendo ser notada na dificuldade em nomear objetos, análise de discurso, vocabulário, capacidade descritiva, e compreensão de leitura. A fala pode se tornar um pouco lenta, podendo haver perseveração, repetição de palavras e frases fora de contexto. Nas demais áreas cognitivas, as funções visuoespaciais estão comprometidas no curso da doença, com os pacientes se perdendo, com desorientação espacial e dificuldade em manusear aparelhos complexos. As funções executivas podem estar comprometidas, o que parece ocorrer em estágios iniciais da doença.

As alterações de comportamento constituem um grande problema na DA, porém frequentemente são ignorados; muito embora produzam mais ansiedade nos cuidadores e causam muito mais institucionalização dos pacientes do que os déficits cognitivos. As alterações de comportamento variam desde uma progressiva passividade até uma marcante hostilidade e agressividade e podem surgir antes das dificuldades cognitivas na evolução da doença. Os delírios, comumente os delírios paranóides, afetam cerca de 50% dos pacientes com DA, levando os pacientes a acusações de roubo, infidelidade conjugal e perseguição. Muitos dos pacientes com DA desenvolvem perturbações do ciclo sono-vigília, alteração na alimentação (voracidade ou anorexia) e mudanças no comportamento sexual (desinibição).

Os pacientes com DA apresentam uma progressiva deterioração em suas capacidades em desenvolver suas atividades de vida diária (AVDs). A perda progressiva dessas funções repercute na qualidade de vida do paciente e de seus cuidadores. Essas perdas parecem ocorrer de forma hierárquica, ou seja, das mais complexas para as mais simples. As perdas funcionais podem estar relacionadas com os déficits que ocorrem na esfera cognitiva, pelo comprometimento que atinge percepção, funções executivas e comportamento. Uma descrição deste declínio pode ser útil no acompanhamento da gravidade da doença e no planejamento dos cuidados.

Vários questionários funcionais estruturados estão disponíveis na literatura, porém, para a escolha de um em particular, deve ser levado em consideração o propósito dessa escolha, a praticidade, além das funções psicométricas desse instrumento. A avaliação de AVDs é essencial para se obter um diagnóstico preciso do nível de autonomia desse paciente.

Dra. Emanuela Alves é Fonoaudióloga das Prefeituras de Jucurutu e Santana do Matos, Aperfeiçoada em Oncologia e Disfagia pelo A.C.Camargo-SP, Doutoranda em Neurociências pela UFRN e Membro da Sociedade Brasileira de Doenças Neurológicas.

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