Chorando, governadora do RN anuncia toque de recolher e novas restrições
G1 – A governadora Fátima Bezerra (PT) anunciou nesta sexta-feira (26) que o Rio Grande do Norte terá “toque de recolher” entre 22h e 5h. As aulas presenciais nas escolas também serão suspensas.
As medidas serão publicadas em decreto no Diário Oficial do Estado (DOE) neste sábado (27) e terão validade pelos próximos 15 dias.
“A medida central é o toque de recolher. O decreto traz o toque de recolher entre 22h e 5h da manhã do dia seguinte. Significa que a partir deste horário fica proibida a circulação de pessoas em todo o Rio Grande do Norte“, disse a governadora em entrevista ao RN 2, da Inter TV Cabugi.
Em relação às escolas, Fátima Bezerra (PT) disse que “naquilo que é de competência estadual estão suspensas as atividades de ensino na rede pública estadual e na rede privada, com exceção apenas para as séries iniciais e para o fundamental 1“.
No caso dessas séries iniciais, segundo o governo do RN, deve haver uma concordância entre pais e escolas. “A gente sabe o que significa essa questão das crianças com a assistência dos pais que trabalham. Então, os pais têm que pactuar com as escolas, porque eles já vinham fazendo aquele sistema híbrido, que nem toda a sala fica completa. É a única ressalva“, explicou o vice-governador Antenor Roberto.
Além dessas duas medidas, a gestora anunciou a suspensão de atividades religiosas. “Poderão funcionar apenas para orações e atendimentos individuais, mas estarão suspensas as atividades religiosas em templos cultos, entre outros“, disse Fátima Bezerra.
A governadora também disse que estão proibidas festas e eventos de qualquer natureza.
“Infelizmente vivemos hoje um dos momentos mais dramáticos, não só aqui no Rio Grande do Norte, como em todo Brasil. Nós estamos vivendo o colapso a nível nacional“.
Segundo a governadora, a fiscalização será feita pelas forças de segurança. “Mas nós esperamos, sobretudo, o engajamento da população. Nós não podemos nesse momento ter qualquer sentimento que não seja o coletivo, sobretudo o da solidariedade. Nós estamos vendo todo dia entes queridos indo embora. Estamos vendo as pessoas em busca de leito de UTI e não tendo leitos suficientes“, disse, emocionada, a governadora.
Ela ainda disse que a pressão sobre os leitos críticos em todo o Brasil tem gerado uma crise também em relação aos insumos para UTIs; “Não vamos iludir a população. Não basta só abrir leitos de UTI, inclusive quando o Brasil nesse exato momento crise de abastecimento do ponto de vista de insumos. Nós temos hoje um estresse. Os nossos profissionais da saúde não aguentam mais“.
“O que está em jogo nesse exato momento é a defesa da vida […]. Nesse momento, a sociedade está sendo intimada. O cenário é de guerra e nós queremos a paz. É todo mundo de mãos dadas. Que se cumpra esse toque de recolher. Vamos ficar em casa. Vamos cuidar da vida daqueles que mais amamos“.
O que funciona no toque de recolher?
Poderão funcionar no toque de recolher os serviços considerados essenciais. São eles:
- Farmácias
- Indústrias
- Postos veterinários
- Imprensa
- Funerárias
- Exercício de advocacia
- Alimentação por delivery
- Transporte coletivo urbano
Recomendação aos municípios
Além das medidas, o decreto traz ainda recomendações aos municípios. Entre essas medidas, o governo do RN reforça que bares e restaurantes sejam proibidos de funcionar entre 22h e 6h e que conveniências também não vendam bebidas alcóolicas neste horário.
Outra recomendação é para que as prefeituras fechem as orlas das praias durante os fins de semana e os feriados.
Cenário no RN
De acordo com o Regula RN, plataforma que monitora em tempo real as internações no estado, o Rio Grande do Norte tem 86% dos leitos críticos ocupados, sendo a Grande Natal a região que mais preocupa, com 89%. A consulta foi realizada nesta sexta-feira (26) às 18h45.
Na quinta-feira (25), a governadora admitiu que o sistema de saúde da Grande Natal colapsou e pediu aos prefeitos dos municípios medidas mais rígidas para evitar que isso se espalhe pelas demais regiões e se agrave ainda mais na Região Metropolitana.
O boletim da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) desta sexta-feira (26) indica que o RN tem 415 pessoas internadas em leitos críticos no estado, um a menos do que na quinta-feira (25), quando o estado bateu novo recorde de internações desde o início da pandemia. O número mais alto atingido na primeira onda havia sido de 363 pessoas, em 28 de junho.
Somados ao internados em leitos clínicos, atualmente são 761pacientes – o maior número já registrado. O boletim indica ainda que 100% dos leitos críticos da rede privada em todo o estado estão ocupados. Não há mais vagas.
Exemplo disso é que alguns pacientes não têm conseguido sequer ser internados. Na quinta-feira, uma idosa de 93 anos precisou ser intubada dentro da ambulância depois de ficar cinco horas sem receber atendimento em um hospital particular.
Sem vagas na Grande Natal, os pacientes estão sendo transferidos de avião para o interior do estado. Pelo menos sete já foram internados em leitos em Caicó, Mossoró e Pau dos Ferros. Ao todo, somados às transferências por ambulâncias, 31 pessoas foram reguladas nos últimos dias da Grande Natal para o interior pela falta de vagas.
Além disso, há um crescimento de 60% na internação de pessoas abaixo dos 60 anos de idade. Atualmente, quase metade dos internados em leitos críticos não são idosos.
A superlotação dos hospitais na Grande Natal também se reflete nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), que já operam acima dos 100% de ocupação. Pelo cenário, a Secretaria Municipal de Saúde de Natal decidiu tornar todos os 30 leitos clínicos do Hospital dos Pescadores exclusivos para pacientes com Covid-19.
O anúncio das restrições no Rio Grande do Norte segue na esteira do que vem ocorrendo em outras regiões do país, como na capital de São Paulo; em Araraquara, no interior paulista; na Bahia; no Paraná; e Rio Grande do Sul.
Na manhã desta sexta-feira (26), o Governo do RN publicou uma portaria recomendando a suspensão do atendimento presencial externo nos órgãos e entidades da administração pública estadual direta e indireta por conta do agravamento da pandemia no estado.