Especialistas alertam para impactos da hiperprodutividade

 

O desejo de subir rapidamente na carreira ou de alcançar objetivos ambiciosos faz com que cada vez mais pessoas adotem, mesmo sem saber, a chamada Hustle Culture (Cultura da Agitação). O termo é utilizado para se referir a filosofia de “alta produtividade a qualquer custo”, o que significa dedicar o máximo de horas do dia ao trabalho. Frases clichês como “trabalhe enquanto eles dormem” e “lute enquanto eles descansam” descrevem bem o intuito do estilo de vida, que, para especialistas, pode ser nocivo para a saúde mental.

 

Apesar de ser frequentemente associada aos negócios, a Hustle Culture também pode ser vista em outras áreas, como esportes, educação e arte. A geração do milênio (Millennials), em particular, é uma das mais interessadas no estilo de vida 100% produtivo, procurando sempre estar se desdobrando para realizar diferentes tarefas ao mesmo tempo. O objetivo é completamente diferente do recente movimento Quiet Quitting, por exemplo, que é abraçado pela geração Z. Nele, os adeptos abandonam a ideia de “ir além do trabalho”.

 

Personalidades bem-sucedidas já revelavam fazer parte da Hustle Cultura, como o CEO da Tesla e da Space X, Elon Musk. Pelas redes sociais, o bilionário afirmou “nunca ninguém mudou o mundo com 40 horas por semana (o equivalente a oito horas por dia)” e que o ideal seria trabalhar a partir de 80 horas por semana, podendo chegar até 100 (16 a 20 horas por dia, respectivamente). A declaração foi feita após Musk afirmar que trabalhou 120 horas por semana, ou seja, 24h por dia, durante o ápice da crise de produção do Model 3 da Tesla.

 

Para a médica psiquiatra Adriana Zenaide Figueira, um dos principais influenciadores da Hustle Cultura está nas redes sociais. Isso porque, nas plataformas, as pessoas tendem a fazer publicações que não condizem totalmente com a realidade, omitindo momentos do dia a dia, como cansaço e frustração. Ela comenta que há, também, a falsa ideia de pouco trabalho e grandes resultados, o que acaba influenciando de forma negativa outros usuários, sobretudo jovens que estão iniciando a vida profissional ou acadêmica.

 

“Nas redes sociais, poucos se mostram em dias cansados ou com problemas. E pior: há a falsa ideia de pouco trabalho e grandes resultados. Essa ideia de sermos hiperprodutivos é além de falsa, impossível. O descanso é necessário. O ócio também. Nosso corpo, seja mental ou físico, não é uma máquina incansável. Precisamos de pausas para reenergizar, além do que faz parte da integralidade do conceito de saúde, o autocuidado”, afirma Adriana.

 

O mesmo é dito por Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness at Work e especialista em felicidade corporativa. Ela enfatiza que há, ainda, uma diferença entre trabalho constante e produtividade, uma vez que o acúmulo de tarefas acaba aumentando a distração, fazendo com que as atividades não sejam finalizadas completamente ou com o desempenho esperado. Tal cenário pode resultar em grandes frustrações.

 

“Quando tentamos dar conta de tudo e realizar multitarefas, fazemos tudo com 10 pontos a menos no QI”, diz Renata. “A verdade é que sobrecarregamos e super estimulamos nossos cérebros. Acordamos e dormimos com o celular, passamos tempo em reunião respondendo outras mensagens, estamos em casa resolvendo algo do trabalho e no trabalho resolvendo algo de casa, principalmente. Nos viciamos na dopamina que recebemos ao acessarmos nossas redes sociais. Vivemos numa sociedade distraída e sem foco”, acrescenta.

 

Segundo a Dra Adriana, a autocobrança, somada a metas altas e a falsa ideia de produtividade permanente, é um alerta, já que flerta com o adoecimento mental. Os sintomas podem começar com alterações de humor, sono e apetite, por exemplo, podendo evoluir para problemas mais graves, como depressão e ansiedade. Outras consequências englobam a Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA) e a Síndrome de Burnout, que estão entre os impactos mais comuns de rotinas aceleradas e cansativas.

 

*Com informações de SBT News | Ponta Negra News

 

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