Duas missas encerram a Semana da Comunicação e marcam a celebração do 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais

 

Pelo terceiro ano consecutivo, a Pascom Brasil celebra o 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais com uma programação ao longo da Semana de Comunicação. A atividade que abriu a semana foi a Leitura Orante da Palavra de Deus no dia 23 de maio, às 19h30.

 

O roteiro foi preparado pelo Cristonautas Brasil e contou com a meditação da Palavra da religiosa paulina e ex-assessora da Comissão Episcopal Pastoral para Comunicação da CNBB, irmã Elide Fogolari, e pelo secretário do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), por Márcio Oliveira. O texto bíblico que conduziu a reflexão será Marcos 12,28-34.

 

segunda atividade da Semana da Comunicação aconteceu dia 26 de maio (quinta-feira), com início às 19h30. O aprofundamento da mensagem do Papa Francisco para o 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais foi conduzido pelo Grupo de Reflexão sobre Comunicação da CNBB.

 

Parceiros na realização da Semana

 

Neste ano, outros setores comunicativos da Igreja no Brasil participam da organização: a Assessoria de Comunicação e a Comissão de Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Signis Brasil, os Jovens Conectados, o Ministério de Comunicação Social da Renovação Carismática Católica (RCC), a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e o Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB). As atividade estão sendo transmitidas pelo pelo canal da CNBB no YouTube, e no dia 29 de maio, duas celebrações eucarísticas com transmissão por TVs de inspiração católica.

 

Para baixar a identidade visual, cards de divulgação e subsídio de celebração, clique aqui.

 

Celebrações na intenção dos comunicadores

 

No domingo da Ascensão do Senhor, comunicadores de todo o Brasil poderão celebrar o Dia Mundial das Comunicações por meio da transmissão de duas celebrações eucarísticas, em sua intenção, direto do Santuário Basílica de Nossa Senhora da Piedade, em Caeté (MG).

 

A primeira celebração, às 8h, será presidida pelo arcebispo de Belo Horizonte e presidente da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, com transmissão pelas emissoras de inspiração católica TV Horizonte, TV Rede Século 21, TV Rede Vida e TV Canção Nova .

 

Às 15h, a segunda celebração será presidida pelo bispo auxiliar de Belo Horizonte e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB, Dom Joaquim Mol, com transmissão pela TV Horizonte, TV Imaculada, TV Aparecida, TV Pai Eterno, TV Nazaré, TV Evangelizar e Web TV Bom Jesus. Ao final da celebração, será divulgada uma carta dos setores comunicativos que organizam a Semana da Comunicação.

 

Mensagem do Papa Francisco

“Escutar com o ouvido do coração”

 

Queridos irmãos e irmãs!

 

No ano passado, refletimos sobre a necessidade de “ir e ver” para descobrir a realidade e poder narrá-la a partir da experiência dos acontecimentos e do encontro com as pessoas. Continuando nesta linha, quero agora fixar a atenção noutro verbo, “escutar”, que é decisivo na gramática da comunicação e condição para um autêntico diálogo.

 

Com efeito, estamos perdendo a capacidade de ouvir a pessoa que temos à nossa frente, tanto na teia normal das relações quotidianas como nos debates sobre os assuntos mais importantes da convivência civil. Ao mesmo tempo, a escuta está experimentando um novo e importante desenvolvimento em campo comunicativo e informativo, através das várias ofertas de podcast e chat audio, confirmando que a escuta continua essencial para a comunicação humana.

 

A um médico ilustre, habituado a cuidar das feridas da alma, foi-lhe perguntada qual era a maior necessidade dos seres humanos. Respondeu: “O desejo ilimitado de ser ouvidos”. Apesar de frequentemente oculto, é um desejo que interpela toda a pessoa chamada a ser educadora, formadora, ou que desempenhe de algum modo o papel de comunicador: os pais e os professores, os pastores e os agentes pastorais, os operadores da informação e quantos prestam um serviço social ou político.

 

Escutar com o ouvido do coração

 

A partir das páginas bíblicas aprendemos que a escuta não significa apenas uma percepção acústica, mas está essencialmente ligada à relação dialogal entre Deus e a humanidade. O “shema’ Israel – escuta, Israel” (Dt 6, 4) – as palavras iniciais do primeiro mandamento do Decálogo – é continuamente lembrado na Bíblia, a ponto de São Paulo afirmar que “a fé vem da escuta” (Rm 10, 17). De fato, a iniciativa é de Deus, que nos fala, e a ela correspondemos escutando-O; e mesmo este escutar fundamentalmente provém da sua graça, como acontece com o recém-nascido que responde ao olhar e à voz da mãe e do pai. Entre os cinco sentidos, parece que Deus privilegie precisamente o ouvido, talvez por ser menos invasivo, mais discreto do que a vista, deixando consequentemente mais livre o ser humano.

 

A escuta corresponde ao estilo humilde de Deus. Ela permite a Deus revelar-Se como Aquele que, falando, cria o homem à sua imagem e, ouvindo-o, reconhece-o como seu interlocutor. Deus ama o homem: por isso lhe dirige a Palavra, por isso “inclina o ouvido” para o escutar.

 

O homem, ao contrário, tende a fugir da relação, a virar as costas e “fechar os ouvidos” para não ter de escutar. Esta recusa de ouvir acaba muitas vezes por se transformar em agressividade sobre o outro, como aconteceu com os ouvintes do diácono Estêvão que, tapando os ouvidos, atiraram-se todos juntos contra ele (cf. At 7, 57).

 

Assim temos, por um lado, Deus que sempre Se revela comunicando-Se livremente, e, por outro, o homem, a quem é pedido para sintonizar-se, colocar-se à escuta. O Senhor chama explicitamente o homem a uma aliança de amor, para que possa tornar-se plenamente aquilo que é: imagem e semelhança de Deus na sua capacidade de ouvir, acolher, dar espaço ao outro. No fundo, a escuta é uma dimensão do amor.

 

Por isso Jesus convida os seus discípulos a verificar a qualidade da sua escuta. ”Vede, pois, como ouvis” (Lc 8, 18): faz-lhes esta exortação depois de ter contado a parábola do semeador, sugerindo assim que não basta ouvir, é preciso fazê-lo bem. Só quem acolhe a Palavra com o coração “bom e virtuoso” e A guarda fielmente é que produz frutos de vida e salvação (cf. Lc 8, 15). Só prestando atenção a quem ouvimos, àquilo que ouvimos e ao modo como ouvimos é que podemos crescer na arte de comunicar, cujo cerne não é uma teoria nem uma técnica, mas a “capacidade do coração que torna possível a proximidade” (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 171).

 

Ouvidos, temo-los todos; mas muitas vezes mesmo quem possui um ouvido perfeito, não consegue escutar o outro. Pois existe uma surdez interior, pior do que a física. De fato, a escuta não tem a ver apenas com o sentido do ouvido, mas com a pessoa toda. A verdadeira sede da escuta é o coração. O rei Salomão, apesar de ainda muito jovem, demonstrou-se sábio ao pedir ao Senhor que lhe concedesse “um coração que escuta” (1 Rs 3, 9). E Santo Agostinho convidava a escutar com o coração (corde audire), a acolher as palavras, não exteriormente nos ouvidos, mas espiritualmente nos corações: “Não tenhais o coração nos ouvidos, mas os ouvidos no coração”.[1] E São Francisco de Assis exortava os seus irmãos a “inclinar o ouvido do coração”.[2]

 

Por isso, a primeira escuta a reaver quando se procura uma comunicação verdadeira é a escuta de si mesmo, das próprias exigências mais autênticas, inscritas no íntimo de cada pessoa. E não se pode recomeçar senão escutando aquilo que nos torna únicos na criação: o desejo de estar em relação com os outros e com o Outro. Não fomos feitos para viver como átomos, mas juntos.

 

A escuta como condição da boa comunicação

 

Há um uso do ouvido que não é verdadeira escuta, mas o contrário: o espionar. De fato, uma tentação sempre presente, mas que neste tempo da social web parece mais assanhada, é a de procurar saber e espiar, instrumentalizando os outros para os nossos interesses. Ao contrário, aquilo que torna boa e plenamente humana a comunicação é precisamente a escuta de quem está à nossa frente, face a face, a escuta do outro abeirando-nos dele com abertura leal, confiante e honesta.

 

Esta falta de escuta, que tantas vezes experimentamos na vida quotidiana, é real também, infelizmente, na vida pública, onde com frequência, em vez de escutar, “se fala pelos cotovelos”. Isto é sintoma de que se procura mais o consenso do que a verdade e o bem; presta-se mais atenção à audience do que à escuta. Ao invés, a boa comunicação não procura prender a atenção do público com a piada foleira visando ridicularizar o interlocutor, mas presta atenção às razões do outro e procura fazer compreender a complexidade da realidade. É triste quando surgem, mesmo na Igreja, partidos ideológicos, desaparecendo a escuta para dar lugar a estéreis contraposições.

 

Na realidade, em muitos diálogos, efetivamente não comunicamos; estamos simplesmente à espera que o outro acabe de falar para impor o nosso ponto de vista. Nestas situações, como observa o filósofo Abraham Kaplan,[3] o diálogo não passa de duólogo, ou seja um monólogo a duas vozes. Ao contrário, na verdadeira comunicação, o eu e o tu encontram-se ambos “em saída”, tendendo um para o outro.

 

Portanto, a escuta é o primeiro e indispensável ingrediente do diálogo e da boa comunicação. Não se comunica se primeiro não se escutou, nem se faz bom jornalismo sem a capacidade de escutar. Para fornecer uma informação sólida, equilibrada e completa, é necessário ter escutado prolongadamente. Para narrar um acontecimento ou descrever uma realidade numa reportagem, é essencial ter sabido escutar, prontos mesmo a mudar de ideia, a modificar as próprias hipóteses iniciais.

 

Com efeito, só se sairmos do monólogo é que se pode chegar àquela concordância de vozes que é garantia duma verdadeira comunicação. Ouvir várias fontes, “não parar na primeira locanda” – como ensinam os especialistas do ofício – garante credibilidade e seriedade à informação que transmitimos. Escutar várias vozes, ouvir-se – inclusive na Igreja – entre irmãos e irmãs, permite-nos exercitar a arte do discernimento, que se apresenta sempre como a capacidade de se orientar numa sinfonia de vozes.

 

Entretanto para quê enfrentar este esforço da escuta? Um grande diplomata da Santa Sé, o cardeal Agostinho Casaroli, falava de “martírio da paciência”, necessário para escutar e fazer-se escutar nas negociações com os interlocutores mais difíceis a fim de se obter o maior bem possível em condições de liberdade limitada. Mas, mesmo em situações menos difíceis, a escuta requer sempre a virtude da paciência, juntamente com a capacidade de se deixar surpreender pela verdade – mesmo que fosse apenas um fragmento de verdade – na pessoa que estamos a escutar. Só o espanto permite o conhecimento. Penso na curiosidade infinita da criança que olha para o mundo em redor com os olhos arregalados. Escutar com este estado de espírito – o espanto da criança na consciência dum adulto – é sempre um enriquecimento, pois haverá sempre qualquer coisa, por mínima que seja, que poderei aprender do outro e fazer frutificar na minha vida.

 

A capacidade de escutar a sociedade é ainda mais preciosa neste tempo ferido pela longa pandemia. A grande desconfiança que anteriormente se foi acumulando relativamente à “informação oficial”, causou também uma espécie de “info-demia” dentro da qual é cada vez mais difícil tornar credível e transparente o mundo da informação. É preciso inclinar o ouvido e escutar em profundidade, sobretudo o mal-estar social agravado pelo abrandamento ou cessação de muitas atividades econômicas.

 

A própria realidade das migrações forçadas é uma problemática complexa, e ninguém tem pronta a receita para a resolver. Repito que, para superar os preconceitos acerca dos migrantes e amolecer a dureza dos nossos corações, seria preciso tentar ouvir as suas histórias. Dar um nome e uma história a cada um deles. Há muitos bons jornalistas que já o fazem; e muitos outros gostariam de o fazer, se pudessem. Encorajemo-los! Escutemos estas histórias! Depois cada qual será livre para sustentar as políticas de migração que considerar mais apropriadas para o próprio país. Mas então teremos diante dos olhos, não números nem invasores perigosos, mas rostos e histórias de pessoas concretas, olhares, expectativas, sofrimentos de homens e mulheres para ouvir.

 

Escutar-se na Igreja

 

Também na Igreja há grande necessidade de escutar e de nos escutarmos. É o dom mais precioso e profícuo que podemos oferecer uns aos outros. Nós, cristãos, esquecemo-nos de que o serviço da escuta nos foi confiado por Aquele que é o ouvinte por excelência e em cuja obra somos chamados a participar. “Devemos escutar através do ouvido de Deus, se queremos poder falar através da sua Palavra”.[4] Assim nos lembra o teólogo protestante Dietrich Bonhöffer que o primeiro serviço na comunhão que devemos aos outros é prestar-lhes ouvidos. Quem não sabe escutar o irmão, bem depressa deixará de ser capaz de escutar o próprio Deus.[5]

 

Na ação pastoral, a obra mais importante é o “apostolado do ouvido”. Devemos escutar, antes de falar, como exorta o apóstolo Tiago: “cada um seja pronto para ouvir, lento para falar” (1, 19). Oferecer gratuitamente um pouco do próprio tempo para escutar as pessoas é o primeiro gesto de caridade.

 

Recentemente deu-se início a um processo sinodal. Rezemos para que seja uma grande ocasião de escuta recíproca. Com efeito, a comunhão não é o resultado de estratégias e programas, mas edifica-se na escuta mútua entre irmãos e irmãs. Como num coro, a unidade requer, não a uniformidade, a monotonia, mas a pluralidade e variedade das vozes, a polifonia. Ao mesmo tempo, cada voz do coro canta escutando as outras vozes na sua relação com a harmonia do conjunto. Esta harmonia é concebida pelo compositor, mas a sua realização depende da sinfonia de todas e cada uma das vozes.

 

Cientes de participar numa comunhão que nos precede e inclui, possamos descobrir uma Igreja sinfônica, na qual cada um é capaz de cantar com a própria voz, acolhendo como dom as dos outros, para manifestar a harmonia do conjunto que o Espírito Santo compõe.

 

Roma, São João de Latrão, na Memória de São Francisco de Sales, 24 de janeiro de 2022.

 

FRANCISCO

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[1] «Nolite habere cor in auribus, sed aures in corde» (Sermo 380, 1: Nova Biblioteca Agostiniana 34, 568).

[2] Carta à Ordem inteiraFontes Franciscanas, 216.

[3] Cf. «The life of dialogue», in J. D. Roslansky (ed.), Communication. A discussion at the Nobel Conference (North-Holland Publishing Company – Amesterdão 1969), 89-108.

[4] D. Bonhöfffer, La vita comune (Queriniana – Bréscia 2017), 76.

[5] Cf. ibid., 75.

 

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