Numa abertura marcada por cerimônia pobre, xingamentos a Dilma e falha na iluminação, Brasil sofre, mas estreia com vitória graças a dois gols de Neymar
Foi no sufoco, de virada, com muito nervosismo e com uma ajudinha da arbitragem, mas o Brasil abriu a vigésima edição da Copa do Mundo, nesta quinta-feira, derrotando a Croácia, no Itaquerão, em São Paulo: 3 a 1, gols de Neymar, duas vezes, e Oscar, já no finzinho.
Marcelo abriu o placar marcando contra, no início de jogo. Com a vitória, a equipe de Luiz Felipe Scolari sai na frente na classificação do Grupo A e dá o primeiro passo rumo ao seu sexto título mundial. O próximo desafio é contra o México, no Castelão, em Fortaleza, na terça-feira.
Até lá, Felipão ainda terá de corrigir as falhas que tornaram a partida inaugural tão difícil – algo já esperado, diga-se, tanto pelo adversário, que conta com bons jogadores, como Modric e Olic, como pelo retrospecto (nas últimas Copas, o Brasil sempre venceu de forma apertada na estreia).
Não foi só a seleção que ficou abaixo do esperado: a festa de abertura, com uma cerimônia bastante pobre e fria, teve repercussão negativa no estádio e ao redor do mundo.
A presidente Dilma Rousseff, que foi ao Itaquerão, também não teve uma boa tarde: em três ocasiões diferentes, foi xingada em coro pelo público, mesmo não tendo discursado nem sido anunciada pelos alto-falantes.
Falhas e xingamentos
Nos instantes que antecederam o jogo, a Fifa voltou a dar uma forcinha a Felipão: repetindo o protocolo das partidas da Copa das Confederações, no ano passado, a organização só tocou a primeira parte do Hino Nacional, dando a deixa para que os torcedores cantassem os demais trechos a plenos pulmões, incendiando a equipe da casa. Antes do pontapé inicial, o trio de arbitragem reuniu os jogadores de Brasil e Croácia ao redor do círculo central para uma cerimônia simbólica pedindo “paz, tolerância e respeito aos direitos humanos”, em nome da Fifa e da ONU (o secretário-geral Ban Ki-moon estava na tribuna de honra ao lado da presidente Dilma Rousseff). Com três pombas brancas soltas a partir do centro do campo, a Fifa declarava aberta a Copa do Mundo. Normalmente, a tarefa cabe ao chefe de Estado do país-sede, mas o temor de que a vaia ouvida na abertura da Copa das Confederações se repetisse afastou Dilma tanto do microfone como do campo de visão do público. Não adiantou: pela segunda vez na tarde desta quinta, a presidente era alvo de um xingamento obsceno em coro (ela já havia sido xingada logo depois da cerimônia de abertura.
Não foi a única dor de cabeça das autoridades brasileiras: logo no primeiro minuto, parte da iluminação se apagou. Em um quarto da fila de refletores que contorna a cobertura do Itaquerão, as luzes ficaram apagadas por cerca de sete minutos. Passados outros sete minutos, em que os refletores lentamente começaram a se acender, novo apagão nos mesmos lugares do topo do estádio. Como ainda estava claro, não houve qualquer interrupção na partida – e quando anoiteceu, a iluminação não voltou a falhar, para alívio dos organizadores. Para as cerca de 62.000 pessoas presentes ao jogo inaugural da Copa, a abertura transcorreu com pequenos problemas, mas sem falhas capazes de comprometer a realização da partida. Muitos torcedores reclamaram das filas longas demais nos bares e restaurantes, da falta de comida em alguns pontos de venda perto do início do jogo e da falta de informações precisas para conseguir encontrar seu assento no estádio. Assim como a falha na iluminação, são defeitos que poderiam ter sido corrigidos caso o Itaquerão tivesse sido testado adequadamente nos meses que antecederam o Mundial. Entregue em cima da hora, o estádio acabou sendo palco de uma abertura ao modo brasileiro.