Vacinação de crianças contra a Covid-19: entenda o que se sabe e o que está em prática no mundo

 

O total de pessoas que já tomou ao menos uma dose da vacina contra a Covid-19 no mundo é de 31,8% e cerca de 23,9% está totalmente vacinada, segundo dados da plataforma Our World In Data.

 

É neste cenário de escassez global e corrida contra a variante delta que ocorre o debate sobre se deve ser prioridade aplicar vacinas em crianças e adolescentes, sendo que autoridades de saúde defendem que primeiro devem ser imunizados todos os adultos e que os mais jovens correm menos riscos de ter formas graves da Covid.

 

Abaixo, veja um resumo do que está em jogo e, na sequência, leia o detalhamento dos principais pontos em uma sequência de perguntas e respostas:

 

  • No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) avalia nesta quarta (18) o pedido do Butantan para incluir o público na faixa de 3 a 17 anos na bula do imunizante;
  • No mundo, a vacinação de crianças a partir dos 3 anos só ocorre atualmente na China. Não há dados sobre quantas crianças já foram vacinadas no país;
  • Farmacêutica chinesa Sinovac publicou em junho, na revista The Lancet, dados sobre o uso da CoronaVac neste público, e aponta que ele é segura e capaz de gerar resposta imune. Ainda não foram publicados os estudos de fase 3, considerados mais amplos e definitivos sobre a eficácia;
  • Pelo mundo e também em algumas cidades do Brasil, adolescentes acima de 12 anos já estão sendo vacinados com o imunizante da Pfizer;
  • Crianças e adolescentes correspondem a 0,5% do total de vítimas da Covid-19;
  • Especialistas dizem que os estudos apontam que as vacinas são seguras em pessoas com menos de 18 anos e que esse público deve ser considerado se houver disponibilidade de vacina.

 

Abaixo, leia as respostas para 8 perguntas sobre o tema:

 

1 – Quais são os imunizantes disponíveis no Brasil para menores de 12 anos? Atualmente, não há nenhum imunizante autorizado pela Anvisa para uso em pessoas com menos de 12 anos.

 

Em maio deste ano, a Pfizer informou que já existem estudos e testes em andamento em crianças de 6 meses a 11 anos de idade para avaliar a eficácia e a segurança do imunizante.

 

A Anvisa informou que nenhum outro laboratório pediu para incluir na bula da sua vacina a autorização para uso em menores de 18 anos, mas que a Janssen tem autorização para o estudo clínico de sua vacina com menores de idade.

 

“O estudo da Janssen [no Brasil] envolve dois braços de pesquisa específicos, um com pessoas de 12 a 18 anos e outro com menores de 12 anos. O estudo está em andamento”, disse a Anvisa.

 

2 – O que diz o estudo que foi usado para liberar a CoronaVac na China?

 

A China aprovou a Coronavac para pessoas de 3 a 17 anos no dia 4 de junho, se tornando o primeiro país do mundo a aprovar uma vacina contra a Covid para crianças. No mesmo mês, o laboratório Sinovac publicou um estudo demonstrando que a CoronaVac é segura e eficaz em crianças e adolescentes.

 

Segundo o artigo divulgado na revista científica The Lancet, após duas doses da CoronaVac aplicadas em um intervalo de 28 dias, mais de 96% do grupo testado (552 crianças e adolescentes saudáveis de 3 a 17 anos) produziu anticorpos contra o Sars-CoV-2.

 

Porém, os cientistas da Sinovac ressaltaram algumas limitações do estudo, como o pequeno número de participantes (552 crianças e adolescentes) e a falta de dados sobre segurança e resposta imunológica de longo prazo.

 

A pesquisa foi conduzida no condado de Zanhuang, na China, em duas fases:

 

Fase 1: envolveu 72 participantes e foi realizada entre 31 de outubro e 2 de dezembro de 2020
Fase 2: envolveu 480 participantes e foi realizada entre 12 e 30 de dezembro de 2020

 

Os resultados do estudo foram publicados na revista The Lancet no dia 28 de junho deste ano.

 

3 – A vacinação de pessoas acima de 12 anos já começou em quais países?

 

Países como Estados Unidos, Canadá, Israel, França, Itália e até cinco capitais do Brasil já começaram a vacinação de adolescentes a partir dos 12 anos com o imunizante produzido pela Pfizer.

 

Em junho, a Anvisa autorizou o uso da vacina da Pfizer contra a Covid-19 em adolescentes a partir dos 12 anos de idade no Brasil.

 

4 – Existe uma faixa etária específica abaixo de 18 anos que é mais afetada pela Covid-19?

 

Um levantamento feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com base nos dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade Infantil (SIM), do Ministério da Saúde apontou que, entre as crianças e adolescentes brasileiros mortos pela Covid no ano passado, 45% tinham até 2 anos.

 

O percentual chama atenção porque, apesar de estar restrito a uma faixa etária bastante limitada (0-2 anos), corresponde a quase metade do número total de mortes causadas pela Covid-19 em pessoas com até 18 anos. A outra metade (55%) corresponde às mortes registradas em crianças e adolescentes entre 3 e 18 anos.

 

Ao todo, o levantamento computou 1.207 óbitos ocasionados por Covid-19 em pessoas até 18 anos.

 

5 – Se comparado com o total de mortes por Covid no Brasil, a incidência entre as crianças é alta?

 

Não, mas não deixa de ser preocupante, aponta Marcelo Otsuka, infectologista e coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

 

“O percentual de crianças e adolescentes que vieram a óbito devido à Covid-19 corresponde a 0,5% do total de mortes, o que pode parecer pouco. Mas, se temos 500 mil óbitos no Brasil, 2.500 mortes são de crianças e adolescentes. Isso é muito. A gente precisa, sim, proteger as crianças e os adolescentes também”, afirma Otsuka.

 

Segundo o infectologista Renato Kfouri, presidente do departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), com o avanço da vacinação nas demais faixas etárias é natural que o percentual de casos de Covid diminuam entre os mais velhos e aumentem entre as crianças, grupo que ainda não foi imunizado.

 

“Hoje, o que vemos é a manifestação de casos graves de Covid-19 majoritariamente em indivíduos não-vacinados. A vacinação está avançando nas demais faixas etárias e daqui a pouco vão sobrar apenas as crianças como não-vacinadas. Caso a gente não vacine as crianças, o que teremos é um aumento proporcional de casos graves em crianças”, explica Kfouri.

 

6 – O que deve ser levado em conta na hora de vacinar crianças?

 

Segundo Marco Aurélio Safadi, professor da Santa Casa e presidente do departamento de infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, a decisão de se vacinar crianças menores de 12 anos, independente da doença, leva em consideração três fatores:

 

  • Impacto da doença na população
  • Eficácia da vacina na prevenção da doença
  • Segurança

 

“Depois que você conseguiu distribuir a vacina para os grupos prioritários, é desejado que se vacine as crianças – desde que os estudos apontem que a avaliação de riscos e benefícios sejam favoráveis. Isso quer dizer, que os efeitos adversos não tragam riscos à vida”, explica Safadi.

 

7 – Crianças respondem bem à vacinação contra a Covid?

 

Sim. De acordo com Kfouri, experiências de imunizações anteriores e os estudos que estão sendo produzidos demonstraram que as crianças respondem melhor à vacinação se comparados com indivíduos maiores de 18 anos.

 

“Em geral, crianças respondem de uma maneira muito mais robusta à resposta imune se comparadas com os adultos. Esse próprio estudo da Pfizer que permitiu o licenciamento de vacinas de 12 a 17 demonstrou que eles produzem mais resposta imune do que jovens de 18 a 25 anos”, diz Kfouri.

 

“De forma geral, as vacinas têm se demonstrado seguras na população pediátrica e, por isso, vários países têm adotado a vacinação em adolescentes, inclusive em crianças”, afirma Marcelo Otsuka, infectologista e coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

 

8 – Agora é o momento certo para vacinar crianças contra a Covid?

 

Segundo Kfouri, o ideal seria ter a disposição um grande volume de vacinas, que permitisse começar a vacinação em crianças e adolescentes ao mesmo tempo em que é ofertada uma terceira dose aos idosos.

 

Contudo, diante da escassez do imunizantes, ele considera que se deva priorizar a terceira dose em idosos. “Os adolescentes ou crianças com fatores de risco já deveriam ter sido vacinados faz tempo. Não tem diferença para o diabético adulto e para o adolescente”, diz Kfouri.

 

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