Tradição e regionalismo: a arte dos bordados do Seridó ganha selo do INPI

Na máquina de pedal, dona Iracema Nogueira borda peças que são uma “belezura”. Ela é de Caicó, no Seridó potiguar, região conhecida pelos bordados que são verdadeiras obras de arte. O aprendizado veio da observação. Curiosa, aprendeu cada ponto olhando outras bordadeiras trabalharem. Comprou a primeira máquina com o primeiro salário que conquistou como professora há quase 40 anos, e é a mesma que usa até hoje.

“Foi uma coisa que eu aprendi a fazer e eu faço com amor, com arte. Eu crio o meu próprio designer, risco e bordo”, disse.

Maria Dileusa é filha da bordadeira mais antiga de Timbaúba dos Batistas, cidade com quase 2.300 habitantes. O bordado entrou muito cedo na vida dela. Aos 15 anos já vivia da arte e ganhava seu próprio dinheiro. Com o passar do tempo, ela aperfeiçoou a técnica e os traços criados por ela mesma. Hoje aos 65 anos ela ainda continua bordando.

Em Timbaúba dos Batistas, são mais de 800 bordadeiras. Algumas ainda seguem a tradição e fazem o trabalho à moda antiga com a máquina de pedal. “Eu nunca cansei de ensinar o que eu tenho: a perfeição. Porque tudo do artesanato precisa da perfeição, é o que faz o nosso bordado de Caicó de origem. É a perfeição, a qualidade, a matéria-prima, o lavar, o engomar, tudo isso faz o diferencial”, destacou dona Dileusa.

O prêmio por todo esse cuidado e delicadeza com as mãos veio em forma de certificado de garantia. Um selo de indicação geográfica, na categoria procedência, foi aprovado em junho deste ano pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). E o que isso significa? Agora, os bordados produzidos pelas artesãs do Seridó têm atestado de qualidade.

O selo leva o nome de “Bordados de Caicó”, município que é referência na região Seridó, mas bordadeiras de outras 11 cidades também serão beneficiadas com o selo.

“O nosso bordado de Caicó passa a ser reconhecido nacionalmente como um produto de qualidade e isso assegura a sua tradição, o modo de fazer e dá mais competitividade ao produto”, destacou Yves Guerra, analista técnico do Sebrae.

O Sebrae também criou a “Rota do Bordado” pela região do Seridó, onde se fabrica peças feitas com o capricho que só o seridoense tem, uma forma de dar visibilidade a essa arte que muitas vezes passa de geração em geração e é fonte de renda para muitas famílias.

E para provar que as bordadeiras têm talento suficiente pra se reinventar, a pandemia do novo coronavírus trouxe uma inspiração. Gercineide Silveira resolveu dar aquele “toque seridoense” nas máscaras, essenciais na prevenção contra a Covid-19. O trabalho é feito entre mãe e filha. Dona Terezinha Silveira, mesmo aos 79 anos, não para. Ela seleciona o tecido, faz o corte e o bordado fica por conta de Gercineide. Por dia elas produzem cerca de 20 máscaras. “Eu bordei primeiro a de mamãe, gostei, postei e comecei a fazer. O pessoal está gostando muito, então eu comecei a bordar essas máscaras”, disse.

Para adquirir o selo, as bordadeiras precisam fazer parte de alguma associação ou cooperativa vinculada ao Comitê Regional das Associações e Cooperativas Artesanais (Cracas). Agora quem comprar algum bordado na região do Seridó já sabe que tá adquirindo um produto certificado e de qualidade.

G1

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