Professor de judô do RN, conta como foi permanecer na China em Pandemia

 

O potiguar Rodrigo Duarte, de 29 anos de idade, precisou tomar um decisão delicada em fevereiro do ano passado. Morando em Wuhan, na China, desde 2016, ele viu um novo vírus se espalhar na cidade com uma taxa de transmissão e letalidade que assustaram.

 

O governo brasileiro, sem nenhum caso registrado da doença no país naquele momento, ofereceu resgate. Diferente de outros 34 compatriotas, Rodrigo recusou e decidiu ficar, mesmo diante do desconhecido. Pouco mais de um ano depois, não tem dúvidas de que tomou a decisão certa.

 

“A minha decisão foi baseada no fato de que no Brasil, infelizmente, ainda não conseguimos garantir a segurança física dos indivíduos. Eu senti que no caso de uma pandemia, da segurança sanitária, teríamos extrema dificuldade”, diz o potiguar.

 

Nesta semana, o Rio Grande do Norte, Estado com 3,4 milhões de habitantes e onde a família de Rodrigo vive atualmente, ultrapassou as 4 mil mortes por Covid-19. A China, que tem 1,3 bilhão de pessoas, tem 4,6 mil óbitos, sendo o último registrado em janeiro depois de oito meses. O Brasil ultrapassou as 280 mil mortos e sofre com pressão nos leitos de UTI em todas as regiões.

 

Para Rodrigo, que é professor de judô na cidade, o principal motivo para que a pandemia tenha sido controlada em Wuhan, mesmo com o cenário inicial caótico, foi o entendimento mútuo de população e autoridades de que algo precisava ser feito de maneira urgente. E o respeito das pessoas às medidas sanitárias impostas.

 

“Todo mundo na rua, sem exceção, usa máscara. Você vê que está todo mundo empenhado em resolver isso logo. Em voltar a trabalhar logo, em voltar a ganhar dinheiro logo. O chinês pensa muito positivo. É muito interessante a forma que eles pensam em ser práticos. Então não tem muita conversa”, falou.

 

Ele complementa: “Aqui não existiu essa de metade da população usa máscara, e a outra metade não. Ou o governo quer fazer isso, não quer fazer aquilo. Governo e população entraram em conjunto e fizeram o que tinham que fazer. Não existiu ninguém discutindo se tem que usar isso ou aquilo. Não existiu ninguém perdendo tempo com isso. Foi algo prático, direto. Tem que usar máscara, então vamos usar máscara. Pronto, resolveu. Não tinha conversa”.

 

Apesar da China viver uma situação mais controlada em relação ao coronavírus, bem diferente do início de 2020, o professor de judô conta que a população “não baixa a guarda”. “Todo mundo tem essa sensação de que o vírus está por aí e de que temos que manter o cuidado. Está tudo bem no momento, mas se baixarmos a guarda, pode voltar. E ninguém quer que isso volte”, diz ele.

 

O potiguar conta que as próprias pessoas cobram uma das outras o cumprimento das medidas de proteção. “Teve um dia que eu esqueci de subir a máscara depois de beber água na rua. Um rapaz passou por mim e falou: ‘Suba a máscara’. É assim. Uma pessoa normal na rua cruzou o caminho comigo e pediu pra eu arrumar a máscara. As pessoas têm isso. Eu vejo frequentemente”.

 

Tendo em vista o atual cenário em Wuhan, parece óbvio apontar que o potiguar fez a escolha certa depois de um ano. Mas, naquele fevereiro de 2020, isso não foi tão fácil e ele ouviu família e amigos considerarem uma decisão arriscada se manter ali, já que naquele momento a cidade era o epicentro mundial da doença.

 

“Todo mundo falava para eu sair. Muita gente, na época, aqui em Wuhan mesmo, antes do lockdown, dizia para sairmos, irmos pra outro país, porque ia ser pesado. Ninguém sabia o que ia acontecer”, diz ele, que mora com a namorada na cidade.

 

Rodrigo conta, no entanto, que confiou plenamente na atuação das autoridades locais para o combate à doença. “Pelo tempo que eu moro aqui, eu sei que o que acontecer eles conseguem resolver. Era questão de dar tempo, paciência e não entrar em pânico. E segurar por um tempo, que eles iam resolver com tranquilidade”, falou.

 

“Tem uma série de critérios que a gente observa no dia a dia que fazem com que você sinta que eles vão simplesmente resolver. O que for acontecer, eles resolvem. Se estruturaram para isso.”

 

Hoje ele diz que “existe muita comoção dos chineses quando eu falo de assuntos como esse da pandemia, de como está sendo agora no Brasil”. “Eles sabem que não é fácil de resolver, mas sabem que dá para resolver. E no período que estamos, eles não sabem porque ainda estamos assim, porque estamos tão atrasados. Eles não conseguem entender. Eles só desejam força e esperam que possamos superar isso”.

 

Depois da quarentena e dos primeiros meses de volta às ruas, o professor de judô diz que só recentemente decidiu reabrir a empresa, apesar de ainda não ter voltado a dar aulas. Mas ele conta que o comércio e a vida praticamente voltaram ao normal na cidade.

 

Para conseguir caminhar em direção à normalidade, Rodrigo explica que os estabelecimentos cumprem rigorosamente os protocolos de segurança e que as pessoas respeitam as medidas de proteção individual, como uso de máscaras, por exemplo.

 

“As pessoas estão circulando, consumindo, mas claro que com todo cuidado, como uso de máscaras e álcool, além de toda higiene. Há muito cuidado com todo sistema que eles têm de tecnologia, utilizando código QR, quando entra e sai. Com tudo isso, está tudo funcionando, muito bem. Estamos conseguindo, por enquanto, tranquilamente levar sem problema nenhum”, disse.

 

Em relação à volta do próprio negócio, ele diz que foi “um pouco conservador”. “No começo eu tentei perceber como as pessoas iriam reagir ao contato físico, porque judô requer muito contato físico. Eu vi que precisaria dar um pouco mais de tempo para que a pandemia acalmasse para poder dar aula de judô. Então, eu deu bastante tempo pra organizar minha empresa, voltar as atividades com mais segurança, para ver como as pessoas iriam reagir”, falou.

 

“Você ia a um restaurante em julho, agosto e percebia que as pessoas estavam usando muito álcool em tudo. Ainda usam. Mas não tanto quanto antes. Você percebia que as pessoas não iriam apertar a mão ou ter contato físico, estavam todos muito assustadas no começo”.

 

A expectativa dele é reabrir a academia de judô até abril. “No momento, existe uma segurança que as pessoas estão voltando ao normal e que o vírus está bem distante daqui. Então, é muito mais garantido de que as pessoas irão voltar a praticar atividades físicas que tenham contato físico. Coisa que no começo era incerto”.

 

O potiguar explica que enquanto precisou ficar parado, sem dar aulas, recebeu um auxílio inicialmente da família, mas depois passou a viver de investimentos.

 

“Aqui na China não tenho muita diversão, também não sou alguém que consome, eu salvo muito dinheiro e faço investimentos. Invisto em ações, compro criptomoedas. Tenho uma educação financeira equilibrada e nesse período eu basicamente vivi de comprar e vender ações e de criptoativos”, disse.

 

“Fico bem conectado em relação ao câmbio acontecendo. A pandemia deu tempo pra gente estudar sobre coisas que na rotina, no corre corre do dia a dia, nós não temos tempo de estudar. E uma das coisas foi aprender a como lidar com o dinheiro, como me educar financeiramente a essa nova rotina”.

 

Para que o comércio tivesse retornado com segurança e a vida caminhasse para a voltar ao normal nesses últimos meses, Rodrigo acredita que houve o entendimento de que não há como salvar a economia sem salvar as vidas.

 

“Salvar vidas e salvar a economia é a mesma coisa. Se você não consegue salvar as vidas, você simplesmente não consegue salvar a economia, porque a economia é movida pelas pessoas. Então se não tem um ambiente seguro de consumo, as pessoas simplesmente não vão consumir. Não existe economia. A grande questão é que ninguém está pedindo, forçando eles a isso. Eles têm consciência. Você só precisa andar na rua, ir a um shopping, a qualquer local, e você vai ver o pessoal se policiando.”, esclarece Rodrigo.

 

Os familiares, os amigos. Até desconhecidos. Está todo mundo se cuidando e ninguém baixa a guarda. Porque todo mundo quer passar por isso e voltar ao normal. Se vão cortar a cabeça de um inimigo, eles cortam de uma vez só”. Conclui

 

Fonte G1/RN

 

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