Em carta à Governadora diretor do CDS sugere que ensino presencial permaneça suspenso até o final do ano
O diretor do Colégio Diocesano Seridoense, Padre Costa escreveu uma Carta Aberta à governadora Fátima Bezerra e a todos os responsáveis pelo Sistema de Educação do RN exortando-os a não ceder a nenhuma pressão e manter o ensino presencial suspenso até o final do ano. A Governadora confirmou recebimento e disse que o caso será analisado com toda atenção que merece.
Confira a Carta na íntegra:
Carta aberta do Pe. Francisco de Assis Costa da Silva (Pe. Costa)
Diretor do Colégio Diocesano Seridoense de Caicó à (ao):
Governadora do Estado, Prof. Fátima Bezerra,
Secretário de Estado da Educação, Prof. Getúlio Marques Ferreira,
Secretária Adjunta de Estado da Educação, Prof. Márcia Gurgel,
Conselho Estadual de Educação do RN,
Diretores de DIRECs do RN,
Secretários Municipais de Educação do RN,
Diretores de Escolas públicas e privados do RN,OUVI O CLAMOR DO PE. COSTA DE CAICÓ: Não coloquemos em risco a saúde e a própria vida dos nossos alunos, professores, funcionários e seus familiares, por causa de três meses de aula.
Tenho ouvido algumas vozes que ousam falar em nome das Escolas particulares do RN, reclamando o retorno às aulas presenciais, ainda que de modo parcial, com a promessa do cumprimento de um protocolo de biossegurança. Não poderia me omitir, como Padre da Diocese de Caicó, Professor da UERN e Diretor do CDS – Caicó, de dirigir-me a todos aqueles que têm a responsabilidade de coordenar o Sistema Educacional do Estado do RN, público e privado, chamando-os a refletir sobre o que isso pode significar diretamente para um terço da população do RN, até porque, como diz Jesus em Lucas, 19,40: “Se eles calarem, as pedras falarão”.
Nem todas as escolas privadas reclamam pelo retorno às aulas presencias. Há escolas privadas, e o Colégio Diocesano Seridoense de Caicó é uma delas, que têm clareza e consciência de que o retorno às atividades presencias pode colocar em risco o esforço que todos têm feito para manter o COVID19 sob controle, no nosso Estado.
A grande maioria das famílias não aceitam e não mandarão seus filhos para a escola. Assim sendo, as crianças destas famílias terão direito a continuidade do ensino remoto;
Com isto, as escolas terão que duplicar a carga horária de seus professores e técnicos administrativos, para atenderem ao chamado “Ensino Híbrido”, pois as turmas que tiverem ensino presencial pela manhã, terão obrigatoriamente que ter o ensino remoto à tarde e viceversa;
A grande maioria dos nossos professores já têm dois regimes de trabalho. Muitos são professores do estado e de município, do estado e particular, de município e particular e de mais de uma escola particular. Como ficará a vida daqueles professores que se encontram nessa situação? Parodiando o que diz Jesus em Mateus, 23, 4: “Não coloquemos fardos pesados e difíceis de suportar nos ombros dos outros, quando nós mesmos não podemos carrega-los”;
Mais do que nunca temos a consciência da importância do professor em sala de aula, no entanto, diante da preservação do bem maior e sabendo que este é o único meio de nos mantermos preservados desta pandemia, nossos pais e alunos têm se sentido relativamente satisfeitos com o trabalho de ensino remoto;
Se até o momento nossas crianças estiveram preservadas do COVID19, como não culpar a escola, caso uma criança que esteja frequentando a escola venha a ser infectada? Tal probabilidade nos coloca diante de possíveis desdobramentos jurídicos imprevisíveis;
É falaciosa a argumentação de que esta ou aquela escola esteja preparada para o início das aulas presencias tendo em vista o cumprimento de um protocolo de biossegurança;
Quem conhece minimamente a criança, sabe perfeitamente que ela não se enquadra dentro de protocolos. A lógica de um protocolo de biossegurança não atinge a consciência infantil e dos adolescentes. A criança surpreende sempre! Por isso não se trata de ter ou não condições financeiras, estruturais, físicas ou sanitárias. Trata-se da compreensão ou não do mundo infantil e adolescente;
Alguns podem argumentar: tudo já voltou a funcionar: comércio, academias, igrejas, etc. A Escola é diferente de tudo isso. Ela é única. Ela não se assemelha a nada daquilo utilizado como argumento para ser reaberta. Se assim o fosse, nós não precisaríamos de psicólogo, assistente social, psicopedagogo, inspetor de disciplina e outros profissionais de apoio no processo ensino-aprendizagem. Querer comparar a escola a outra instituição, de qualquer natureza, é verdadeiramente não conhecer o que seja uma escola;
Apesar dos inúmeros esforços das famílias e das escolas em manterem o ensino remoto, de certo temos um prejuízo de conteúdo e de dias letivos, mas isso pode ser recuperado o que não podemos recuperar é a vida. Eu não compreenderei em hipótese alguma que gestores educacionais coloquem em risco a saúde e a vida de um terço da população do nosso estado com o pseudo argumento de salvação do ano letivo, até porque temos prejuízo, mas o ano letivo não está perdido. Ademais, três meses de aulas presenciais não garantem a recuperação de nenhum prejuízo escolar;
Por fim, quero exortar a todos os destinatários referidos no início desta carta a continuarmos com os mesmos esforços e a darmos continuidade ao ano letivo do modo como estamos fazendo, até a sua conclusão, suplicando a Deus que ilumine a mente dos cientistas do mundo inteiro para que descubram logo uma vacina capaz de erradicar ou ao menos controlar tão cruel pandemia. Rezemos igualmente pelos nossos representantes educacionais, para que iluminados pela Luz divina possam ter o discernimento em todas as decisões e que não se deixem levar por pressões ou interesses de grupos. Deus nos abençoe a todos!