Filho de agricultores, potiguar vence seletiva com 3 mil candidatos para estudar em escola na China
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A escola Li Po Chun faz parte da rede United World Colleges (UWC), que reúne 18 instituições espalhadas por diversos países e tem como missão formar jovens líderes com foco em impacto social e diversidade cultural.
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Na escola de Hong Kong, distante mais de 16 mil quilômetros de casa, ele vai concluir o ensino médio com bolsa integral durante dois anos.
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A bolsa cobre hospedagem e alimentação durante os dois anos de curso, mas a família ainda precisa arcar com os custos das passagens aéreas e da alimentação nas férias de verão e fim de ano.
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Para isso, Lucas criou uma vaquinha online, disponível no perfil do estudante, para arrecadar R$ 47 mil.
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Segundo ele, algumas escolas concedem uma espécie de mesada, o que não é o caso da que ele vai estudar.
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“Infelizmente minha bolsa não englobou isso, o que problematizou um pouco, porque eles não cobrem custos pessoais meus, de higiene, coisas que eu queira para me acomodar. Se eu preciso de roupas que, por exemplo, eu preciso. E isso não é por conta deles, a bolsa não engloba isso. E aí o valor foi ficando cada vez mais rente a algo desesperador”, explicou Lucas.
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“Se ele ganhasse 99% [da bolsa], a gente ainda não conseguiria cobrir o restante”, contou a mãe de Lucas, a agricultora Maria das Dores Lima.
‘Me senti grande pela primeira vez’
A trajetória de Lucas começou bem perto de casa. Filho de agricultores, ele sempre foi aluno de escola pública e se destacou desde o ensino fundamental.
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A dedicação aos estudos foi o que o levou a sonhar alto — e a acreditar que era possível.
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“No ensino fundamental ainda, eu lembro que entre o terceiro e quarto ano, tinham medalhinhas e prêmios para alunos nota 10. E eu me esforçava muito para conseguir elas, porque meus pais ficavam muito felizes”, contou.
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O estudante potiguar contou que sentia que era praticamente impossível conseguir a bolsa. Isso ficava claro inclusive em conversas com outros candidatos.
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Por isso, quando passou, a sensação foi de que tinha feito algo muito importante.
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“Eu me senti grande. Eu acho que pela uma das primeiras vezes na minha vida que eu realmente me senti enorme, porque eu conversei com outros que haviam sido aprovados e a gente percebeu que a gente tinha um pensamento em comum: nós estávamos colocando todos que eram aprovados nesse processo como num pedestal inalcançável”, contou.
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“A gente estava tentando, mas a gente pensava: “não tem como eu chegar neles, eles são muito incríveis. Não tem’. Como que eu vou conseguir algo assim, sabe?”, completou.
O processo
A seleção para a bolsa durou seis meses e foi dividida em cinco etapas. Algumas delas foram feitas online, diretamente do quarto de Lucas.
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Outras exigiram viagens até São Paulo. A cada fase superada, o sonho que parecia distante foi se tornando realidade.
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Lucas Lima contou que quando recebeu a notícia de que havia se classificado não conseguiu acreditar e só chorou.
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“Eu lembro que quando eu recebi a confirmação, meus pais estavam presentes e viram aqui, eu saí do meu quarto, eu saí paralisado assim, e aí eu só comecei a chorar e caí no chão. E eu gritei:’ eu passei’ e eu sentei assim no chão com as mãos na cabeça pensando: ‘Meu Deus, eu passei mesmo’. Pareceu muito irreal”, disse.
Um sonho coletivo: família orgulhosa
Lucas cresceu vendo os pais, Maria das Dores e Keginaldo, tirarem da terra o sustento da família. Agora, eles colhem os frutos de uma nova safra: a da educação.
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Para os pais, a aprovação do filho é motivo de orgulho e também de preocupação, pela distância do filho.
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“De orgulho, primeiramente, de preocupação e saber que ele realmente vai estar do outro lado do mundo. Nunca fez tanto sentido aquela aquele ditado popular que as pessoas dizem: ‘Ai, vai para a China’. Agora realmente vai para a China”, contou a mãe Maria das Dores Lima.
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“Para a nossa família é um orgulho enorme, por quê? Porque ele é o único da nossa família que tá tendo essa oportunidade”, completou.
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O pai, o agricultor Keginaldo Carlos de Lima, disse que se emociona sempre que lembra da aprovação do filho. Ele se mostrou feliz, mas também já prevê a saudade.
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“Feliz demais, nossa. Muito feliz. Quando eu vejo ele falar, começo a chorar. É do outro lado do mundo, é muito, muito complicado, difícil, né? A pessoa a pessoa vê o filho da pessoa tem que passar dois anos longe, né? Difícil”, falou.
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Para a mãe, essa oportunidade pode ser um divisor de águas na vida do filho e uma esperança para um futuro promissor.
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“É como um professor do último colégio que ele estudou falou: ‘É um divisor de águas na vida dele e nossa, né?’. Porque através disso eu sei que ele pode ter, sim, um futuro melhor que isso vai trazer coisas grandes na vida dele”.
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